segunda-feira, maio 21, 2012

O Reino de Morfeu - I Visita


Prefácio

"Tudo o que nos cerca é irreal. O que vós, humanos, chamais de realidade, em verdade, é uma farsa. O meu reino tem mais realidade do que o teu, bardo. Nele, todavia, a realidade não se mostra tal como é em si mesma; apenas pode desvendá-lo quem aprende a maneira correta de ler seus símbolos. Compreendendo estes signos, removerás os véus que encobrem o meu reino, o Oneiros."

Estas são as palavras que me foram ditas quando me encontrei pela primeira vez com Morfeu. Desde então, tornamo-nos amigos, pois ele costumava me visitar sempre que sua mãe, a Noite, cobria com seu manto escuro Urano, o céu, iluminado por Hélios.

Em suas visitas seguintes o senhor de Oneiros disse-me que em seu reino eu poderia aprender muito, contanto que eu aprendesse a ler aquela realidade simbólica em que seu mundo se apresentava. Aceitei visitar aquela paragem. Morfeu vinha buscar-me todas as noites, sempre após a descida do Titã radiante ao Jardim das Hespérides. O rei trazia consigo seu irmão, Hipnos, que sempre portava consigo uma papoula, entregue a mim antes de adentrarmos ao Oneiros.

Antes de minha visita guiada  - e consciente - àquele reino, Hipnos disse que eu não deveria largar a flor até que o passeio houvesse findado ou me fosse permitido fazê-lo. E, assim, por doze noites, visitei o reino de Morfeu. E de lá hauri muitos conhecimentos, inclusive a enchergar naquela tão rara realidade.

Awmergin, o Bardo
________

I Visita - Os Campos de Trevos

Morfeu leva o bardo até uma planície, um campo onde apenas haviam trevos verdes em toda sua extensão. No horizonte havia uma montanha, cujo cume era nevado.

A Noite já encobria Urano (1)
com seu escuro e adornado manto,
quando Morfeu e Hipno chegaram
para me levar ao meu primeiro
05. passeio àquelas terras de Oneiros (2).

Hipno deu-me a alva flor
e eu a tomei como ingresso;
Morfeu tirou de uma algibeira
um punhado de pó brilhante
10. e jogou-o em minha face.

O rei de Oneiros tomou-me pela mão
E foi meu condutor a uma paragem
de seu vasto império:
era um campo de trevos verdes,
15. uma planície vasta e aberta.

Lá chegando, Morfeu disse-me:
"Aqui eu te deixo sozinho,
para que observes esta paisagem,
contemples sua beleza
20. e, com isto, aprendas.

No mesmo lugar onde me deixara
o rei, eu permanecera, de pé e atento
à bela paisaem que me cercava.
E o que lá vislumbrei
25. eu vos direi agora:

A vasta planície onde me encontrava
era coberta por um macio tapete
de trevos verdes de quatro folhas,
semelhantes aos que existem
30. na Irlanda e onde viviem os leprechauns. (3)

Todo aquele campo era verde
e me fez sentir vida e esperança,
mesmo encontrando-me só, a observar
em todas as direções,
35. nada mais via a não ser o verde.

Em meio a toda aquela planície,
Despontava, solitária, u'a montanha
no horizonte mui' distante,
cujo corpo era dum cinza pétreo
40. e tinha seu cume nevado.

A montanha erguia-se altaneira
aos céus de um azul puro e sereno,
sem nenhuma nuvem
a pairar e nem vendo soprar revolto.
45. Apenas o Sol áureo imperando no firmamento.

Isto foi o que vislumbrei
em minha primeira visita
ao Oneiros, reino de Morfeu
o senhor de manto escuro.
50. Tendo níditas na memória as minhas visões. 

Terminada a visita, Morfeu, o de muitas formas,
e Hipno, o porta-flor, vieram buscar-me:
Um pediu-me sua branca flor de volta,
o outro conduziu-me ao meu próprio reino,
55. onde despertei com carícias de Hélios em minha face.

Awmergin, o Bardo -  in "No Reino de Morfeu, I Visita"

Fotografia "Form and shape and color", por Ed Robins


(1) O céu
(2) A terra dos Sonhos.
(3) Duende típico da Irlanda, são guardiões de tesouros no fim do arco-íris e são famosos por seu artesanato.

Os direitos autorais são protegidos
pela lei nº 9610/98,
violá-los é crime estabelecido pelo
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