domingo, julho 08, 2007

Orfeu: o Mito da Orfandade Poética.


O nome de Orfeu sempre esteve também associado ao verdadeiro criador da "teologia pagã". Orfeu oculta uma tríplice identidade nessa relação: a Natureza, a Humanidade e o Céu. Teria sido a língua dos deuses a poesia, a que Orfeu teria traduzido para as criaturas humanas?. É nesse sentido que Rilke vai lhe chamar de o "deus cantor" na obra Sonetos a Orfeu, de onde podemos ver Orfeu como um instigador, antes de encará-lo como um deus ou uma entidade mitológica.
Para ter a ressonância mítica que alcançou, Orfeu foi um herói que não precisou das armas para vencer inimigos, monstros, ou qualquer outro ente mitológico. Sua "arma" foi a voz, o canto e a poesia. O mito de Orfeu ganha uma outra dimensão exatamente no momento em que ele renuncia às armas que o pai lhe oferece e tira sons maviosos do arco que o pai lhe obrigava empunhar. Mas, Orfeu é lembrado por outra ação: a ação de olhar para trás.
Orfeu olhou para trás porque antigamente os "deuses" costumavam pregar peças aos homens. Humilhava-nos em diversões ridículas. Para não correr o risco de ser ridicularizado pelas divindades, Orfeu preferiu correr o risco e "olhou para trás", e cometera uma transgressão consciente e isso também quase ninguém nota. Orfeu tem relativa pressa em saber, e isso assusta as divindades. Ao descer ao Hades, o poeta desafia o ciclo temporal da vida-morte, pois consegue, temporariamente, "ressuscitar" Eurídice, consegue revê-la.
(...)

Benilton Cruz - Professor de Literatura da Universidade Federal do Pará,. Poeta e escritor. Doutorando-se em teoria e história literária pela Universidade de Campinas.

Pintura: "Orpheus Leading Eurydice from the Underworld", by Corot, Jean-Baptiste-Camille
1861 (180 Kb); Oil on canvas, 112.3 x 137.1 cm (44 1/4 x 54 in); Museum of Fine Arts, Houston, Texas

Nenhum comentário: